CC Magazine: JJ: duas letras, um mito
 

JJ: duas letras, um mito




Neste homem simples, de ar tímido, mas com grande coração, a quem uma perna torta não se coadunava minimamente com a prática do futebol, escondia-se um dos mais virtuosos jogadores de sempre do futebol português. Um feiticeiro do drible, um íntimo do golo ou, como em tempos um seu antigo colega (Fernando Tomé) o recordou... “Uma cobra por entre minhocas”. Jacinto João ou simplesmente “Jota-Jota” era um daqueles craques que fazia levantar um estádio e, que deixou saudades. "Quem o viu jogar não esquece, quem não viu não sabe o que perdeu!", é uma frase, que ainda hoje corre de boca em boca pelas ruas de Setúbal...




Pegando no que Pedro F. Ferreira, escreveu sobre Jacinto João, aqui mesmo no nosso blogue e, aproveitando a presença do seu filho, Nuno João, no nosso IV Grande Encontro, partimos para mais uma reportagem do Cromo dos Cromos que, não é mais que uma singela homenagem, a um dos mais extraordinários jogadores do nosso futebol.




Nascido em Luanda, corria o ano de 1944, desde cedo mostrou as suas potencialidades para o futebol. Ainda jovem, com apenas 19 anos, o Vitória de Setúbal manifestou o interesse na sua contratração. Nesse ano de 1963, fez a viagem para Lisboa, com destino a Setúbal, mas logo no aeroporto da Portela, em Lisboa, dirigentes do Sport Lisboa e Benfica, o esperavam e o “desviaram” para a Luz. Depois de quase meio ano, onde apenas jogou nas reservas e com “Jota-Jota” descontente, foi-lhe informado que não teria lugar no clube e, que tudo fariam para o colocar noutro emblema. Recusando a ajuda por parte dos encarnados, “Jota-Jota” regressou à terra mãe.




Mas não seria por muito tempo. Passados dois anos, Jacinto João voltaria a Portugal, mas agora  a viagem não iria ter desvios. Desta vez “Jota-Jota” seria mesmo jogador do Vitória de Setúbal. Começou então aí, uma ligação de quase década e meia aos sadinos, onde fez mais de 260 jogos e, marcou mais de 60 golos. No segundo ano de ligação ao clube e, apesar de ainda não ser um indiscutível, a final da Taça de Portugal de 1966/67, aquela do prolongamento duplo, elevou “Jota-Jota” a mito para os lados do Sado, quando aos 144 minutos, passou por dois jogadores da Académica, e rematou cruzado batendo Maló, para o 3-2 final, deixando o clube e a cidade à beira Sado plantada, numa das maiores festas de que há memória.




Em finais de 1968 e cada vez mais a impor-se em Setúbal, “Jota-Jota” passou a ser um sério candidato a marcar presença na Selecção Nacional. A 27 de Outubro de 1968, pela mão de José Maria Antunes, o mesmo que lhe tinha dito não ter lugar no Sport Lisboa e Benfica, Jacinto João estreou-se em grande pela nossa Selecção. Em jogo realizado no Estádio Nacional contra a Roménia, a contar para o apuramento do Mundial, “Jota-Jota” iria entrar para o lugar de António Simões e, fazer um golo na vitória lusa por 3-0. Só seria chamado à Selecção mais 9 vezes, contabilizando um total de 10 internacionalizações e  2 golos apontados.




No Vitória, desde finais dos anos 60, que “Jota-Jota” passou a ser a máxima referência, de uma equipa que lutava sempre pelos lugares cimeiros da tabela. Entre 1969 e 1974, Jacinto João assumiu papel preponderante no segundo lugar de 1971/72, mais três terceiros lugares e, ainda nas extraordinárias campanhas que o Vitória de Setúbal fez nas provas da UEFA. Após o 25 de Abril, “Jota-Jota” vive a sua primeira e única experiência fora de Portugal quando, em 1975/76 vai para São Paulo, representar a Portuguesa dos Desportos.




Regressaria a Portugal, em Outubro de 1976, já com 32 anos, para cumprir mais três épocas no Vitória. Aí Jacinto João, percebeu que apesar de já não ser o mesmo, era um tónico importantíssimo para os colegas e para o clube. Aos 35 anos, decidiu colocar um ponto final, numa carreira brilhante e, que ainda poderia ter sido mais. Por Setúbal ficou, na cidade que o sempre acolheu, até em 2004, ser vítima de uma inesperada paragem cardíaca, que se viria a revelar fatal.




Jacinto João, o “Jota-Jota” ou simplesmente “Jota”, ficará eternamente ligado a Setúbal, ao Vitória e, será para sempre recordado, como um dos maiores futebolistas da história do nosso futebol.









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