CC: Na época seguinte, o SC Braga faz a melhor época, das oito em que o Sérgio representou o clube, quando conseguiram um 4º lugar, com apenas os chamados “três grandes” a terminar à vossa frente. Grande campeonato esse, não?
Sérgio Abreu: Sim, o melhor que fiz ao serviço do SC Braga e na minha carreira na 1ª divisão. Um 4º lugar e ficar à frente do Vitória de Guimarães e a qualificação para a Taça UEFA, algo que não acontecia há anos naquele clube e que era a realização do trabalho ardúo do grupo de trabalho. Sobretudo do objectivo que poucos de nós acreditávamos podermos atingir e que o “Mister” Cajuda nos tinha proposto, desde a primeira vez que entrou no balneário, no início dos seus três primeiros anos em Braga. Fez de nós, muito mais jogadores.
CC: Vitória sobre o Sporting e empate contra o Benfica em Braga, o pior jogo terá mesmo sido, a derrota por 5-0 no Estádio das Antas e em que o Sérgio é expulso...
Sérgio Abreu: Sim, mas na altura lembro-me que era fácil ser expulso na casa dos grandes (eram e continuam a ser mais protegidos do que os outros clubes). Sei que fiz duas faltas sobre o Domingos e no meio da 2ª parte fui expulso, estava o FC Porto a ganhar 1-0. Mas isso, não retirou o brilhantismo dessa excelente época.
CC: No ano seguinte, o SC Braga regressa às competições europeias mais de uma década depois. Depois de eliminar o Vitesse e o Dínamo Tblisi, o SC Braga viria a “caír aos pés” dos alemães do Schalke 04. O Sérgio foi titular na 2ª mão, no jogo que ditou o afastamento dos bracarenses, na Alemanha. Lembra-se dessa partida?
Sérgio Abreu: Sim, até fui capitão nesse jogo. Vinha de uma paragem por lesão, o nosso treinador (Castro Santos), pediu-nos para jogarmos cara a cara com o Schalke (na altura detentor da Taça UEFA), jogámos bem, mas falhámos algumas oportunidades. O resultado ainda estava 0-0, quando o Zé Nuno foi expulso, depois disso, acabámos por perder 2-0. Lembro-me de no fim do jogo, ir trocar a minha camisola com o guarda-redes Lehmann (iria para o Arsenal mais tarde) para dar a sua camisola ao meu irmão Alberto, também ele guarda-redes (ainda hoje guarda essa recordação). Lembro-me que ele (Lehmann) ficou um pouco surpreendido, porque não era costume, pedir para trocar a camisola com um guarda-redes. Bons tempos.
CC: Mas nessa época, o Sérgio tem outro momento marcante na sua carreira, a sua primeira final da Taça de Portugal . O SC Braga perde 3-1 frente ao FC Porto, mas terá sido por certo, um momento marcante ter jogado aquela final no Jamor, não foi?
Sérgio Abreu: Até começámos mal essa aventura, pois tivemos quase a ir “borda fora” em Felgueiras, até o Baltazar fazer o golo do empate. Depois eliminámos nos Quartos-de-Final o Sporting, nas Meias-Finais o SL Benfica, de Preud'homme e Poborsky (2-1), no estádio 1º de Maio como nunca tinha visto, completemente a abarrotar. Depois chegou a final no Jamor. Pisar aquele estádio mítico, numa final da Taça, é algo que nos marca. Lembro-me que entrámos muito receosos e cometemos alguns deslizes, o que nos custou dois golos. Ao intervalo, falámos e o grupo foi com outro espírito para a 2ª parte. Marcámos através do Sílvio e podíamos ter feito o empate, se o Senhor Árbitro, aquele “da azia” em Chaves (Jorge Coroado) tivesse marcado, uma grande penalidade, do Secretário sobre o Karoglan. Mas mesmo assim, podíamos ter chegado o empate, já em cima da hora, quando o Rui Correia vai buscar um cabeceamento meu, mesmo ao ângulo. Depois em contra-ataque, o Artur acabou por matar o jogo, fazendo o 3-1. O FC Porto, acabaria por fazer a dobradinha nacional, e nós qualificámo-nos para aquilo, que viria a ser a última época da Taça dos Vencedores das Taças.
CC: Partimos agora para a sua última época no SC Braga (1998/99). Um nono lugar no campeonato e mais uma vez a marcar presença nas competições europeias, desta vez na Taça das Taças. Foi difícil despedir-se de um clube onde passou oito épocas da sua carreira?
Sérgio Abreu: Sim, lembro-me que falei com o “Mister” Cajuda, que tinha voltado na altura para Braga. Ele pediu-me que ficasse, fui falar com a administração do SC Braga, com o Presidente João Gomes, mas não chegámos a acordo de verbas e fui-me embora. É verdade que foi difícil sair, porque como disse na altura, oito anos não são oito dias, mas as pessoas não souberam reconhecer as nossas qualidades. Pensavam que já fazíamos parte da mobília (como se dizia na altura) e pensavam que nunca nos iríamos embora. Mas infelizmente, por causas menores, tive que deixar o SC Braga e seguir com a minha carreira nos Açores (Santa Clara).
CC: Despede-se de Braga, mas não da 1ª divisão, pois vai representar o recém primodivisionário Santa Clara. Como foi a experiência nos Açores e a sua última época na 1ª divisão?
Sérgio Abreu: Muito positiva. Apesar de ter de ter descido de divisão (era a primeira vez do Santa Clara no escalão maior), até Dezembro correu tudo bem. Tínhamos uma excelente equipa. Lembro-me que empatámos logo o primeiro jogo, em casa com o Sporting (2-2) com dois golos do meu amigo Gamboa, fomos ganhar ao Rio Ave, a Alverca, empatámos na Madeira com o Marítimo, em Faro, perdemos no Porto (1-0) e em casa com o Benfica (3-1). Só que depois o clube em Dezembro vendeu o Clayton ao FC Porto e como a nossa equipa (treinada pelo Manuel Fernandes) estava habituada a jogar em contra-ataque e ele era a referência na frente, a partir de Dezembro começámos a jogar de modo diferente. Tivemos muitas dificuldades em nos adaptar a outro estilo de jogo, as lesões também foram muitas em jogadores chave e acabámos por descer no último jogo com o Vitória, porque o Gil Vicente, também acabou por ganhar. Daquela época, guardo o calor humano das pessoas daquela ilha. São pessoas que merecem ter um clube na 1ª divisão.
CC: Está apenas uma época nos Açores, mudando-se na época seguinte para Chaves. Os flavienses fazem uma época muito aquém do esperado com um 12º lugar na Divisão de Honra. Como foi regressar ao 2º escalão, mais de uma década depois?
Sérgio Abreu: Foi difícil. O treinador Dito e a direcção do GD Chaves, tinham feito uma equipa boa para podermos acalentar a subida, com jogadores de 1ª divisão. Muitos não se adaptaram a uma maneira diferente de jogar. A Divisão de Honra na altura, era mais física que a primeira, os resultados não apareciam, os treinadores foram sendo despedidos (Dito, o malogrado Jesus e António Borges) e acabámos por safar o clube da descida, a duas jornadas do fim em Freamunde. Mas foi uma época que não deixou grandes saudades, também devido a vários problemas físicos.
CC: Mais uma época, nova mudança, próxima paragem o Freamunde, agora na 2ª Divisão B. Como foi a essa experiência na 3ª divisão nacional?
Sérgio Abreu: Foi boa, conseguimos o objectivos do Freamunde, que tinha descido da Divisão de Honra e que passava por uma enorme dificuldade financeira. Ficámos na 2ª divisão B e sem dividas agravadas.
CC: Mas mais uma vez, ficou apenas uma época e voltou a “mudar de ares”. Em 2001/02 vai representar o Leixões. Como foi reencontrar o seu antigo companheiro Carlos Carvalhal, mas agora como seu treinador?
Sérgio Abreu: Ele foi meu colega na primeira época em Braga e tinha jogado com o meu irmão. Quando estava no Santa Clara, já me queria para o Freamunde na Divisão de Honra. Posso dizer que aprendi muito com ele e é até hoje, um dos treinadores que mais me marcou. Além disso, sua carreira fala por ele.
CC: Nessa época, o Sérgio faria parte de um feito extraordinário, quando o Leixões chegou até à final da Taça de Portugal e defrontou o já campeão nacional, Sporting. Como foi regressar pela 2ª vez a uma final no Jamor?
Sérgio Abreu: Lembro-me que não subimos de divisão (para a Honra) por nos termos deslumbrado com o feito da Taça, feito esse que ainda hoje perdura, como a única equipa da 2ª Divisão B, a chegar à Final da Taça em Portugal e por isso mesmo, jogar a Taça UEFA – duas eliminatórias, FK Belasica (Macedónia) e PAOK (Grécia).
Na final, jogámos mais uma vez contra o Campeão Nacional daquela época, o Sporting de Boloni e não fomos em nada inferiores. Até podíamos ter levado a final a prolongamento, mas aquela moldura humana do Leixões, no estádio Nacional, é algo que fica para sempre na nossa memória. A final e o jogo das meias-finais em Braga que ganhámos 3-1, quando toda a gente do futebol já dava o Braga na final. Grande equipa que tínhamos nessa altura, com jogadores de 1ª divisão como o: Ferreira, Abílio, Besirovic, Antchouet, Pedras, Nuno Silva, Detinho, Nené, entre outros.
CC: Estaria mais uma época em Matosinhos, a seguinte (2003/04) em Felgueiras, até acabar no FC Lixa. Como foi despedir-se da carreira de futebolista, quase vinte anos depois, da primeira época como senior em Fafe?
Sérgio Abreu: Foi difícil, mas como tudo na vida, tem um fim e o corpo com 37 anos, perto dos 38, já tinha dificuldades em responder às exigências da competição (muitos problemas musculares) e como a direcção do Lixa, pediu-me para assumir o cargo de treinador, decidi pôr termo à minha carreira de futebolista.
CC: Sérgio Abreu, o “Cromo dos Cromos” continua a teimar em manter viva a memória de todos aqueles que fizeram o nosso futebol, através da “colagem de cromos”. Que pensa no geral sobre este nosso projecto?
Sérgio Abreu: Excelente! Porque através de vocês e deste vosso blogue, podemos ter a visão de muitos jogadores que não atingiram o estrelato, mas que tiveram carreira bonitas e que, também fazem parte, à sua maneira, da vida dos clubes e do futebol português. Esta também é uma maneira de serem recordados por aqueles que nos assobiavam e aplaudiram e que por diferentes motivos nos deixaram de ver. Além de ser uma forma, dos adeptos também saberem mais sobre nós.
CC: Para finalizar e, agradecendo mais uma vez toda a sua disponibilidade. Pode deixar umas palavras, para todos aqueles que habitualmente visitam este blogue?
Sérgio Abreu: Que continuem a visitar este blogue (eu serei a partir de agora mais um, a vir cá todos os dias) e parabéns pela vossa iniciativa, que me permitiu rever cromos que não tinha e poder partilhar com vocês e os amigos que visitam este blogue, algumas histórias que fizeram esta minha modesta carreira. Abraço deste vosso amigo para sempre, Sérgio Abreu.
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Entrevista: João Brites.
Texto: João Brites.
Agradecimentos: Sérgio Abreu.