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Dados biográficos: Artur Manuel Soares Correia (18.04.1950)
Iniciação: Futebol Benfica.
Júnior: Benfica.
Sénior: Académica de Coimbra; Benfica, Sporting; Tea Men (EUA).
Internacionalizações: 35 internacionalizações AA.
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Há já muito tempo que estava previsto: se este blogue avançasse para as entrevistas, o Artur seria o primeiro entrevistado. Sempre foi um nome que me habituei a respeitar pela memória que dele tenho, não muita, mas essencialmente pelo que me contavam. E contavam-me muito sobre o seu espírito de sacrifício, a entrega, a abnegação, a “raça”, a forma como defendia as camisolas que vestia e a modernidade do seu futebol.
Há uns meses, em conversa com um amigo, acabei por lhe dizer que gostaria de conhecer o Artur, o “ruço”. Qual não foi o meu espanto quando esse amigo me disse que o conhecia muito bem e que com ele mantinha uma amizade de vários anos.
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A oportunidade surgiu e graças a esse amigo comum, o Joaquim Sereno, foi possível que o Artur aceitasse ser entrevistado para este blogue.
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Marcámos a entrevista para o passado dia 25 de Outubro. Seria ao almoço, pois à mesa não se envelhece e o melhor acompanhamento para uma refeição é uma agradável conversa. E assim foi, o Artur escolheu o restaurante, o “Irmãos Rocha – Adega da Bairrada” na Rua Reinaldo Ferreira, em Lisboa, e nós escolhemos os temas de conversa.
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O Artur revelou-se uma pessoa afável, um excelente contador de histórias, com uma memória impressionante, irreverente e com um apuradíssimo sentido de humor. Do que nos contou… muito não é reproduzível e o que aqui fica é apenas uma pequena amostra do que foi aquela agradável cavaqueira. Quase três horas depois, despedimo-nos com a certeza de que nos voltaremos a encontrar.
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« Formação »
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Fez a formação pelas ruas de Lisboa, no Bairro Alto de onde é natural. A carreira começou, como principiante, no Futebol Benfica, o famoso Fófó. Pelos 14/15 anos foi ao Benfica para ver se por lá ficava. Ficou três anos como júnior, foi campeão logo no primeiro ano, mais tarde ainda lhe somou meia dúzia de títulos de Campeão nos seniores do Benfica. No primeiro ano de sénior decidiu, porque tinha o sonho de ser médico, ir para a Académica de Coimbra. Não saiu por não ter lugar nos seniores do Benfica, aliás o Artur foi, juntamente com o Nené, o Vítor Martins e o Humberto Coelho, um dos juniores escolhidos pelo treinador de então, Otto Glória, a transitar para o plantel sénior do Benfica.
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« Coimbra »
Viveu pela Lusa Atenas durante três anos e fez tudo menos… estudar. Desses tempos, lembra-se particularmente de habitar um 9º andar por cima do “Trianon”, em Celas, onde viva com um grupo de jovens, entre os quais alguns colegas de equipa: Carlos Alhinho, Araújo e Carlos Cardoso, guarda-redes que tinha a alcunha de “mãozinhas”. Em Coimbra viveu bons momentos e chegou à famosa final da Taça contra o Benfica. Teve como colegas o Artur Jorge e o Brassard (pai). Certo dia, num jogo contra o Benfica, teve a infelicidade de marcar um auto-golo ao Brassard, como todos sabiam do seu benfiquismo chegou a temer o pior, mas o Eusébio lá fez o 2-0 para o Benfica e «a coisa passou despercebida».
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« O Regresso ao Benfica »
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Quando o Artur chegou ao Benfica, como sénior, o capitão era o Simões e o respeito era muito. «Eu nunca imaginei vir a poder, algum dia, jogar com o Simões. No primeiro dia em que cheguei ao Benfica vindo da Académica, bati à porta do balneário e ouvi uma voz lá de dentro dizer “Entre!” e eu disse-lhe “senhor Simões, dá licença?” ao que ele me respondeu “ó ‘ruço’, tu és da casa, o teu cacifo é este.” Senti-me em casa e bem recebido. Este era o respeito pelo capitão. Depois, tive outras grandes figuras como o Humberto e o Toni a capitanearem a equipa. Havia jogadores por quem, pelo que representavam, até os árbitros tinham respeito. Vi, muitas vezes, o Humberto Coelho com as mãos atrás das costas a chamar a atenção do árbitro para o facto deste estar a ‘roubar’ o Benfica, e o árbitro a única coisa que lhe dizia era “calma, tenha calma!”. Se fosse com outros…»
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« Com Jimmy Haggan »
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«Era bom treinador, mas tinha uma relação muito delicada com a imprensa e com os jogadores. Naquele tempo, os jogadores só ganhavam o prémio de jogo na totalidade se jogassem. Ora, podíamos estar a ganhar por 6-0, com duas substituições por fazer, o pessoal no banco a pedir “Ó mister, veja lá se dá para entrar” e ele… nada. Chegava à conferência de imprensa, os jornalistas perguntavam-lhe por que motivo não tinha mexido na equipa e ele nem lhes respondia. Silêncio. No balneário também não explicava aos jogadores. Era um treinador terrível nos treinos. Já com a idade que tinha, fazia todos os exercícios que nos mandava fazer. Fartava-se de puxar por nós, a correr à volta do relvado. Lá consegui arranjar uma forma de o fazer abrandar: punha-me ao lado dele, começava a puxar e, como ele não aguentava aquele ritmo, ficava para trás, ora quando ele abrandava e já deitava os ‘bofes pela boca’ todo o grupo abrandava também. Era a única forma de suavizar aquelas “tareias”.»
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« Com John Mortimore »
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«O treinador que melhor sabia falar com os jogadores, o “mais porreiro”, era o Mário Wilson, um grande amigo; o melhor treinador que tive foi o Jimmy Haggan, meu treinador no Benfica. Esse mesmo Haggan treinou o Sporting no primeiro ano em que o Mortimore treinou o Benfica. Nesse primeiro ano do Mortimore, as coisas não começaram muito bem.
Foi num campeonato em que acabámos a primeira volta com oito pontos de atraso para o Sporting, mas acabámos por ganhar o campeonato. No fim da primeira volta, o presidente, que era o Romão Martins, queria mandar embora o Mortimore, e fomos nós, os jogadores, que segurámos o treinador depois de uma reunião no balneário. O Mortimore, quando se apercebeu, até chorou emocionado com o facto de o termos segurado.
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Mas o Mortimore, quando cá chegou, teve os seus problemas. Os jogadores estavam habituados a beber vinho à refeição. O Mortimore não gostou e logo na pré-temporada quis proibi-lo. Houve um ‘levantamento de rancho’ no Brasil e ninguém comeu, o treinador ficou ‘à rasca’. Por essa altura, perdemos um jogo contra o América do Rio de Janeiro, um clube muito mais fraco. Eu, o Messias e o Jordão não fomos a essa digressão, tínhamos marcado férias e tínhamos alugado casa no Algarve. Tínhamos tudo planeado quando reduziram, abusivamente, o tempo de férias. Tomámos uma posição de força e não fomos. Só nos juntámos ao resto da equipa mais tarde. Entretanto, para me substituir, o Mortimore pôs o António Bastos Lopes a defesa direito. Aquilo correu mal, porque aquela não era a posição do António. O treinador ficou de tal maneira preocupado que perguntou ao Toni se aquele é que era o defesa direito do Benfica. O Toni disse-lhe que não, que o defesa direito tinha ficado em Lisboa. Quando o Mortimore lhe perguntou o motivo, o Toni respondeu-lhe “porque não quis vir”. O treinador ainda não me conhecia e já estava com muito má impressão minha. O Benfica acabou por perder os tais três jogos no Brasil e veio para o Torneio do Atlético de Madrid. Entretanto, eu acabara as férias e começara a treinar no Estádio da Luz. Assim que chegaram a Espanha, o treinador mandou-me ir ter com o resto da equipa a Madrid.
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Quando apareci no hotel, fui ter com o Toni que me disse que o treinador estava a descansar e que não gostava de ser incomodado. Não quis saber e decidi apresentar-me ao Mortimore. Falei com ele em inglês e quando ele me disse que sabia que eu tinha um feitio muito especial, respondi-lhe que não, que até era um nice guy. Ficou impressionado pelo facto de eu saber falar inglês e perguntou-me se estava em condições de jogar nesse mesmo dia contra o Estudiantes de la Plata. Disse-lhe que sim.
.Nesse dia, entrei em campo e até parecia que tinha asas nas botas. Dei tudo o que tinha. Ao intervalo, o Mortimore perguntou-me se eu jogava sempre assim, e eu disse-lhe “mister, isto na segunda parte é igual.” Ainda foi melhor. No final do jogo, tinha reconquistado o lugar na equipa e a confiança do treinador.
Passados uns tempos já nos deixava beber uma imperial depois dos jogos. O Mortimore é boa pessoa. Estive com ele no último jogo no antigo Estádio da Luz, ele veio cá ver o jogo e, quando me encontrou, fez-me uma festa.»
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« A ida para o Sporting »
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«Nunca pensei jogar naquela equipa (Sporting). O Benfica, praticamente, mandou-me embora. Estive sempre a ganhar 34 contos por mês. Em 1974, o presidente Borges Coutinho prometeu-me uma festa de homenagem e 500 contos quando renovasse o contrato, em 77. Ora, em 77 fomos campeões com o Mortimore, o Romão Martins ofereceu-me uma festa de homenagem de 200 contos e pouco mais de 20 contos de ordenado. Ameacei que sairia, disseram-me que, como eu era benfiquista, não quereria sair. Aquilo para a época era muito dinheiro e estavam a empurrar-me para fora do meu clube, saí.»
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« O episódio com Paulo Emílio »
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«Quando cheguei ao Sporting, o treinador era um brasileiro que apareceu por aí e saiu logo em Dezembro, o Paulo Emílio. Certo dia, fomos jogar ao norte, estava o Riopele na primeira divisão, e ele, o treinador, quis levar a mulher a conhecer o norte do país. No Riopele jogava o Piruta, que era terrível… durinho. Na manhã do jogo, o treinador não apareceu. Almoçámos e o treinador… nada. Fomos para o jogo, e o treinador… nada. O José Marques, que era o chefe do Departamento de Futebol, disse-me “ó Artur, orienta lá isso”. Ao intervalo, estávamos a perder 1-0. No intervalo, fiz duas substituições e acabámos o jogo a ganhar 3-1. No final do jogo, apareceu o treinador com uma conversa do género “Não há problema, eu sabia que vocês ganhavam”. Fez uma brincadeira igual na Madeira. Acabou por sair por alturas do Natal.
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« Campeão pelo Sporting »
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«Andámos a primeira volta toda à frente, sempre com uma ligeira vantagem sobre o Porto. Na segunda volta do campeonato era a mesma coisa. Imaginem a pressão jornada a jornada. Até que fomos às Antas, salvo erro com um ponto de avanço. O árbitro desse jogo foi o António Garrido. Marcámos um golo na bola de saída, aí com uns 15 segundos de jogo. O árbitro anulou-o, marcou um fora-de-jogo ao Freire que estava… no nosso meio campo.
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Marcou um penalti contra o Sporting, o Botelho defendeu duas vezes, e ele mandou repetir até ser golo. E aquilo nem era penalti, o Octávio mandou um mergulho de fora para dentro da área, e o árbitro aproveitou para assinalar penalti…Fiquei lixado com o árbitro, nem sei o que lhe disse, mas aquilo era um abuso.»
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« A relação com os árbitros »
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No entanto, não se pense que o Artur tinha um mau relacionamento com os árbitros. Antes pelo contrário, até tinha um bom relacionamento com alguns, particularmente com o malogrado Vítor Correia que, diz o Artur com um sorriso, «se dizia do Oriental, mas era ‘lagarto’.»
Por outro lado, não há lugar para grandes ingenuidades no futebol. Assim, quando o árbitro vem com o objectivo de prejudicar uns e beneficiar outros, um jogador experiente apercebe-se logo disso no início da partida, «bastam os primeiros minutos para se saber no que aquilo vai dar, bastam os primeiros cinco minutos e quem lá anda apercebe-se logo de como vai ser o jogo». E, para rematar o assunto arbitragem, lá vai dizendo que não há árbitros da Académica nem do Benfica, «O Benfica é sempre prejudicado pelos árbitros, só que há uns anos não se notava tanto, pois, por mais que nos prejudicassem, já nós levávamos uns golos de avanço. Só os cartões vermelhos que ficaram por mostrar nas faltas sobre o Eusébio…»
Quanto à Académica, lembra-se particularmente de um árbitro, o pai do Paulo Paraty, que detestava de tal forma a Briosa que acabava por arranjar sempre maneira de a fazer perder. E, por estranha ‘coincidência’, apitava sempre que a Académica ia jogar ao Minho.
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« O final da carreira nos Estados Unidos »
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No final da carreira em Portugal, Artur foi jogar para os Estados Unidos, para a NASL, durante duas épocas.
.«Havia por lá bons jogadores, mas também por lá andavam jogadores muito fracos. Aquilo era um bocado dominado pelos empresários ingleses que levavam para lá uns que não jogavam nada e vinham das divisões mais baixas do futebol inglês. A qualidade geral era fraca.
Hoje em dia, há quem critique pelo facto de grandes jogadores terem prolongado a carreira em Portugal jogando por clubes mais pequenos, como o caso do Simões pelo União de Tomar e do Eusébio no União de Tomar e no Beira-Mar. Mas as pessoas esquecem-se de que a época futebolística nos Estados Unidos permitia que, na winter time, viessem à Europa fazer uns meses de competição, e como os clubes grandes não queriam jogadores só por uns meses, acabavam por jogar em clubes mais pequenos. Quase todos faziam isso.»
Depois de ter acabado a carreira, Artur treinou o Sesimbra e o CDUL, tendo ficado, até à actualidade, ligado sempre à área desportiva da Câmara Municipal de Lisboa.
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« A fama, e o proveito, de ser um “duro” »
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«Eu era um jogador raçudo. Comigo, ou passava a bola ou passava o homem… os dois, não.»
No meio de muitas histórias do Mundialito, algumas irreproduzíveis, o Artur lembrou um episódio em particular: o seu encontro com o Rivelino na final da Mini-Copa.
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Segundo o Artur, o Rivelino tinha o hábito de fazer a chamada “finta do elástico”, e fazia-a muito bem. O Maracanã estava cheio e aquilo era “uma loucura”. Logo na primeira jogada do desafio, o Rivelino fintou-o com essa famosa finta. Foi à linha, cruzou e o Tostão atirou à barra. O Rivelino, com ar de gozo, virou-se para o Artur e disse-lhe “Ei, cara, gostou?”. O Artur não era rapaz para levar e calar. Assim, diz o Artur, «Comecei a dar-lhe a linha lateral e a deixá-lo ir, com confiança, até à linha de fundo. Quando o apanhei a jeito, num cruzamento, fiz-lhe um carrinho no pé direito (pé de apoio, pois ele era canhoto) e até fez impressão o barulho do choque. Já estava o Rivelino no chão, agarrado à perna, quando lhe perguntei: “Ei, cara, gostou?”»
Não se pense, no entanto, que não havia quem pagasse na mesma moeda. O Artur lembra-se, particularmente, de um que, diz entre risos, «era perigoso». «Era o Gonzalez, era terrível, entrava muitas vezes com o pé por cima, a mostrar a sola. Era a maneira de jogar dele…»
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« Os adversários mais difíceis »
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«De todos os adversários, o mais difícil de marcar foi o Jacinto João, aquele malandro fazia-me com cada finta… Um dia, num jogo com a Académica, disse-me “ó russo, hoje tenho duas fintas novas que não conheces, já vais ver.” Eu só lhe disse “ó pá, deixa-te de coisas”. Foi impressionante, veio direito a mim e disse-me “esta é uma das novas”, ele passou o pé por baixo da bola, tipo colher de pedreiro, levantou a bola, cruzou e o Torres, de cabeça, marcou. Nesse dia, levámos 5, e eu fiquei tantas vezes no chão… eu só já lhe dizia “ó pá, já chega”.»
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«Outro jogador muito difícil de parar era o Chalana. No Benfica só tinha que o defrontar nos treinos, mas quando fui para o Sporting, por ironia do destino, o primeiro jogo da época foi contra o Benfica, em Alvalade, e o Chalana era o meu opositor directo.
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Quando o jogo começou, voltei-me para o Chalana (de quem era, e sou, amigo) e disse-lhe “ó miúdo, não te ponhas para aí com coisas, que eu perco a cabeça e levas uma paulada”, e ele diz-me “ó russo, não há problema, estamos em família”. Logo na primeira jogada, passou-me a bola por entre as pernas. Era a pior coisa que me podiam fazer. Depois há um canto e… golo do Benfica, foi o Chalana de cabeça. Voltei-me para ele e disse-lhe “ó miúdo, agora já não há misericórdia”, e o Chalana só me dizia “ó russo, foi sem querer, a bola bateu-me na cabeça…” E, por acaso, tinha sido. Na segunda parte, o Fraguito empatou. Ainda hoje me dou bem com o Chalana, é ‘cinco estrelas’.»
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« O benfiquismo »
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O Artur sempre assumiu o benfiquismo por todos os clubes em que passou. Quando estava no Sporting, chegava ao intervalo e a pergunta era, invariavelmente, “Olha lá, pá, como é que está o Benfica?”. Ninguém no Sporting o levava a mal.
Actualmente, o Artur praticamente já não vai aos estádios.«O Benfica parece que se tem esquecido de mim. A Federação também. Há uns tempos quis ir ver a Selecção, pedi um convite, disseram-me que já não havia nem para o político X. Aquilo caiu-me mal.
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A última vez que fui ao Estádio da Luz foi na inauguração. Tiveram a atenção de me convidar. Sinto que o adepto comum ainda me reconhece (aliás, isso foi notório durante o almoço), mas isto é esquisito (risos), pois no Benfica há malta que não me perdoa o facto de ter ido para o Sporting, e para os sportinguistas eu sou sempre um benfiquista (risos).»
No entanto, acabada a carreira de futebolista, permanece a paixão do adepto pelo futebol. Artur continua a ser e a viver o futebol como adepto. Vibra com as vitórias do seu clube como vibrava em criança, festeja o seu Benfica como festejava quando foi pela primeira vez ao Estádio da Luz. Quando o Benfica foi campeão pela trigésima primeira vez, o Artur vibrou de tal forma que só conseguiu festejar quando a Académica empatou no Dragão. Até aí, o nervosismo do adepto sobrepunha-se à frieza do experiente internacional que já tinha conquistado uma meia dúzia de campeonatos.
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« O melhores »
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«O melhor jogador que vi jogar foi o Eusébio, o Pelé não o vi jogar, o Maradona também era fabuloso, mas o Eusébio foi o melhor.»
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Quando perguntámos ao Artur quais são, na actualidade, os melhores futebolistas portugueses, a resposta não se fez esperar: Cristiano Ronaldo e Ricardo Carvalho. Fala quem sabe.
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« Relação com os antigos colegas »
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Continua a encontrar-se com antigos colegas de equipa e mantém muitas amizades dos tempos de futebolista. Diz, com um misto de nostalgia e humor, que costumam encontrar-se nos jogos da velha guarda, mas que ele, Artur, joga apenas na “terceira parte”. Mas aí, joga melhor do que todos os outros. Esteve recentemente com o Alhinho, em Cabo Verde, na Academia que este lá tem. Entre os amigos que vai encontrando mais frequentemente, encontra-se o Toni, o Manuel Fernandes, o Eusébio, e muita malta da Académica. Ainda recentemente, depois de uma delicada intervenção cirúrgica de que foi alvo em Coimbra, na véspera de voltar para Lisboa, juntaram-se catorze antigos colegas da Académica, desde o Mário Campos até ao Rochinha.
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« Abraço de campeões »
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Quase no final do almoço ainda houve tempo para testemunhar o abraço entre Fernando Mendes, antigo jogador e treinador do Sporting, e Artur. Fernando Mendes fora treinador do Sporting, aquando da passagem de Artur por Alvalade. Ainda houve tempo para Artur confidenciar o nervosismo do Fernando Mendes antes do célebre jogo em Guimarães que deu o campeonato ao Sporting, com o não menos célebre golo do Manaca.
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Entrevista: Pedro F. Ferreira e João Brites.
Texto: Pedro F. Ferreira.
Agradecimentos: Artur Correia, Joaquim Sereno.
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