Já fez de tudo no futebol: jogou, treinou, dirigiu, formou e até comentou. Luís Norton de Matos chegou a ser internacional, representou uma série de clubes diferentes, foi um dos primeiros emigrantes de sucesso do futebol português, mas quando olha para trás não vê muitos troféus. Ganhou apenas uma Taça da Bélgica e, no último jogo que fez por uma equipa de I Divisão, perdeu a oportunidade de repetir o feito em Portugal. Felizmente para ele, sobram-lhe outro tipo de honras, como a de ser alguém que muitas vezes viu à frente dos outros.
Luís Maria Cabral Norton de Matos nasceu a 14 de Dezembro de 1953, em Lisboa, no seio de uma família importante – é sobrinho-bisneto do general Norton de Matos. Fez a formação como futebolista no Estoril, primeiro, e como se destacava, no Benfica, mais tarde, onde foi campeão nacional de juniores. Só que, chegado a sénior, em 1972, não teve uma única oportunidade de jogar pela equipa principal. Um ano nas reservas chegou para os responsáveis benfiquistas perceberem que tinham de lhe dar a oportunidade de rodar e Norton foi entregue à Académica. Ali, a 16 de Setembro de 1973, Fernando Vaz deu-lhe a estreia na I Divisão. Correu mal, pois do outro lado estava o poderoso V. Setúbal de José Maria Pedroto, que acabou por vencer por 3-0 em Coimbra. A Académica, ainda assim, fez um campeonato tranquilo, concluído com uma 10ª posição que lhe valia a manutenção, e Norton acabou por nem jogar muito. Fez, ainda assim, dois golos, o primeiro a 6 de Janeiro de 1974, na goleada (6-1) em casa ao Barreirense.
Pavic fê-lo regressar à Luz no Verão de 1974, mas mais uma vez não ficou no plantel, sendo antes enviado para o Estoril, que nessa época festejou a subida ao escalão principal. Já na I Divisão, Norton começou a temporada seguinte como titular, marcou mesmo no empate em Matosinhos, frente ao Leixões (1-1), mas lesionou-se com gravidade no jogo seguinte, na Amoreira, contra o Beira Mar. Só seis meses depois voltou aos relvados, numa partida da Taça de Portugal com o U. Tomar. Acabou por ter um contributo pouco significativo para a excelente temporada dos canarinhos, que acabaram o campeonato em oitavo lugar, mas ficou na memória de António Medeiros, o treinador que mais tarde haveria de levá-lo para o Belenenses.
Antes, porém, Norton ainda passou pelo Atlético, em 1976/77. Foi a sua primeira época com continuidade, mesmo que tenha sido muito conturbada, com a saída do treinador, o uruguaio Jose Caraballo, antes da entrada na segunda volta. Nessa altura, Norton chegou a fazer parte de uma comissão técnica, formada com Franque, Mário Wilson (filho) e Nelo, para tomar conta da equipa antes da chegada do novo técnico, o ex-defesa benfiquista Artur Santos. A experiência foi curta e não pode dizer-se que tenha sido muito bem sucedida, já que se saldou por uma derrota (2-6) com o Boavista, no Bessa. No final da época, ainda que Norton tenha feito a sua época mais goleadora de sempre (seis golos), o Atlético ficou em último lugar do campeonato e desceu de divisão.
O avançado aceitou então o convite de Medeiros e transferiu-se para o Belenenses. No Restelo continuou a ser titular habitual no ataque, ainda que sem encontrar muitas vezes as redes adversárias. Essa capacidade, pode dizer-se, só a descobriu na Bélgica, para onde emigrou em 1978. No Standard de Liège, onde foi treinado por Ernst Happel, um dos treinadores mais importantes do futebol europeu, passou três anos que lhe deram muita coisa a ganhar. Logo à partida, uma Taça da Bélgica, em 1981, ainda que não tenha jogado a final, contra o Lokeren. Depois, uma nova forma de encarar a posição, que lhe deu frutos mais tarde, pois tornou-se mais goleador. Por fim, o empreendedorismo que o levou a lançar a revista Foot em Portugal, nos primeiros anos da década de 80. A Foot portuguesa era uma cópia mais ou menos descarada da Foot belga, mas continuava a ser uma novidade no quase vazio panorama revisteiro nacional.
De regresso a Portugal, Norton de Matos assinou pelo Portimonense. Ali, com Manuel Oliveira e, depois, Artur Jorge à frente da equipa, fez, em 1981/82, a sua melhor época, marcando 12 golos. Neles se incluiu um hat-trick ao Belenenses, que haveria de descer de divisão, bem como um golo ao Sporting, que foi campeão nacional. Nesse jogo, com os leões, em Abril, o Portimonense ganhou (2-0) e Norton abriu uma série notável de cinco jornadas seguidas sempre a marcar, o melhor registo da sua carreira, que em muito contribuiu para o sexto lugar final dos algarvios. Nessa altura já Norton de Matos ostentava o estatuto de internacional: obtivera a 20 de Janeiro de 1982 a primeira das suas cinco internacionalizações AA num jogo particular contra a Grécia. Pela seleção marcou um golo, à RFA, em Fevereiro, acabando por se despedir em Setembro do mesmo ano, na partida frente à Finlândia que assinalou o arranque da qualificação para o Euro’84.
A aproximar-se dos 30 anos, Norton de Matos ainda fez mais duas épocas no Portimonense, de onde saiu em conflito, e depois outras tantas no regresso ao Belenenses. Pelos azuis ainda chegou a uma final da Taça de Portugal, perdida para o Benfica a 27 de Abril de 1986 (0-2). Norton esteve em campo nos primeiros 50’, até dar o lugar a Djão, quando a equipa já perdia por 1-0 e Henri Depireux quis refrescar o ataque. Foi o seu último jogo pelo Belenenses – ainda passou pelo E. Amadora, na II Divisão, mas em 1989 estava a abraçar a carreira de treinador, no Atlético. Hoje treina o Benfica B, mas entretanto passou pela seleção de esperanças, por cargos de diretor-desportivo (no Sporting), foi conselheiro de fundos de investimento, fez cinema com Joaquim Leitão e criou um projeto ligado à formação em África, no Etoile Lusitana, no Senegal.
NORTON DE MATOS NA I DIVISÃO
1972/73 Benfica 0/0
1973/74 Académica 17/1
1975/76 Estoril 9/1
1976/77 Atlético 28/6
1977/78 Belenenses 29/3
1981/82 Portimonense 30/12
1982/83 Portimonense 15/1
1983/84 Portimonense 30/6
1984/85 Belenenses 29/4
1985/86 Belenenses 24/2
TOTAL: 211 jogos e 36 golos
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